

Os investimentos da Funcef em Vale garantiram ao fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal uma rentabilidade significativamente superior à meta atuarial no ano passado
Ações da Vale puxam desempenho da Funcef
Por Rafael Rosas, Valor — Rio
23/03/2021
Os investimentos da Funcef em Vale garantiram ao fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal uma rentabilidade significativamente superior à meta atuarial no ano passado, apesar dos efeitos da pandemia. A rentabilidade da carteira da instituição fechou 2020 em 13,78%, acima da meta de 10,19%, enquanto os ativos líquidos, valor disponível para pagar benefícios, saltaram de R$ 71 bilhões em 2019 para R$ 79 bilhões no fim de 2020.
Apesar de apenas uma classe de ativos não ter batido a meta no ano passado, a alocação em Vale teve um rendimento muito acima da média, puxada pela forte valorização do minério de ferro ao longo do ano. A fatia alocada na mineradora representa 12,6% do patrimônio do fundo e rendeu no ano passado 65,4%, sendo a principal responsável pela alta de 22% da parcela de renda variável, que responde por 30,2% da carteira da Funcef.
“Qualquer que seja a explicação que tenhamos [para a forte alta de Vale], preço de minério, variação do dólar, todas tiveram contribuição. Mas tem um percentual de crescimento que você não consegue explicar, a não ser que seja pela percepção do mercado com a nova governança da Vale. A governança deu tranquilidade para todo mundo”, diz o presidente da Funcef, Renato Villela.
Para se ter uma ideia do peso da Vale na carteira de renda variável do fundo, os ativos em bolsa, ações comuns que constam da carteira da Funcef e representam pouco mais de 15% do patrimônio total da instituição, renderam 3,22% no ano passado. Já os ativos que representam participação em investidas nas quais a Funcef tem assento de governança — majoritariamente Invepar, Norte Energia e Statkraft — e que respondem por 2,4% do patrimônio total, tiveram perdas de 8,96% em 20 20. No fim das contas, a participação da Funcef na mineradora, que era de R$ 6,4 bilhões em 2019, terminou 2020 em R$ 10,125 bilhões.
Mas a diretora de investimentos do fundo, Andrea Morata Videira, ressalta que, se o comportamento da ação da Vale explica o rendimento final da carteira bem acima da meta atuarial, outros ativos também foram suficientemente bem a ponto de superar o objetivo de INPC + 4,5 pontos percentuais em 2020.
“Só uma classe não bateu a meta. Se todos os outros ativos também não respondessem na média, não seria ela [Vale] que pagaria esse resultado da Funcef. Ela foi sim a maior rentabilidade, mas também dependeu de uma consistência dos outros ativos”, diz Andrea.
O segmento de renda fixa, que representa 56% da carteira da instituição, rendeu 11,3%. Andrea explica que “boa parte” dessa aplicação é de títulos que não são marcados a mercado, trazendo investimentos feitos no passado e reduzindo a oscilação com a queda de juros. A parcela de fundos estruturados, incluindo os Fundos de Investimento em Participações (FIP), responde por apenas 1,3% da carteira, mas rendeu 10,47%. Empréstimos com participantes, com fatia de 3,2%, renderam 11,25%.
O resultado abaixo da meta ficou por conta dos investimentos imobiliários, que têm 7,4% da carteira e renderam 1,75%. Andrea lembra que o resultado foi até melhor que o esperado, uma vez que shoppings e hotéis “sofreram muito” durante a pandemia, com grandes períodos fechados. O desempenho só não foi pior porque o segmento de logística, que conta com galpões para armazenamento, respondeu bem à crise, impulsionado pelo súbito aumento dos serviços de entrega e comércio eletrônico.
Andrea destacou ainda que o restante da carteira da Funcef é ligada ao acordo de leniência da JBS no âmbito da operação Greenfield e que rende à instituição um valor relativamente pequeno e sem variação relevante.
O superávit do fundo de pensão no ano passado ficou em R$ 2,57 bilhões, o segundo em três anos, e permitirá uma redução média de 16,5% nos valores das contribuições extraordinárias pagas pelos participantes do REG/Replan Não Saldado a partir da folha de abril. No REG/Replan Saldado, maior plano da fundação em ativos, o déficit que precisa ser eliminado para possibilitar a revisão das alíquotas de equacionamento caiu de R$ 2,17 bilhões , em dezembro de 2019, para R$ 197 milhões.