
Nos últimos dias temos ouvido falar muito sobre a INVEPAR. Segue um resumo sobre a situação.
O que sabemos sobre a INVEPAR?
Nos últimos dias, temos lido vários comentários acerca do investimento da FUNCEF na INVEPAR. Dentro de nossas possibilidades, vamos fazer um apanhado da situação.
A INVEPAR é um daqueles vários investimentos em que a FUNCEF entrou de cabeça nas gestões do ex-presidentes Guilherme Lacerda/Caser, e que depois foram apontados como temerários ou fraudulentos. Boa parte deles naufragou rapidamente, com perda total do valor investido por nossa fundação. A INVEPAR não naufragou logo de inicio, mas vem se arrastando entre dificuldades e perdas nebulosas.
A FUNCEF iniciou investimentos na INVEPAR em 2009. Colocamos ali, à época, R$1,2 bilhão. O ramo de negócio é transporte e infraestrutura. Rodovias, aeroportos.
A FUNCEF detém 25% do capital da empresa, Petros e Previ também tem 25% cada uma. Os 25% restantes pertenciam primeiramente à OAS. A administração, a parte pratica, as obras todas, tudo isso ficava a cargo da OAS. Os outros 3 sócios, os fundos de pensão , entraram com o dinheiro, e tem direito a participação no Conselho de Administração. Sabendo que a OAS foi acusada de envolvimento em múltiplos esquemas de corrupção, não temos motivos para confiar que sua administração tenha sido exemplar e idônea, muito ao contrário.
A INVEPAR sempre precisou levantar recursos no mercado. Fez emissão de debentures já em 2010, outra em 2014, outra em 2015 e assim foi indo. Alguns colegas conhecem isso, outros não, então esclareço que debêntures é uma espécie de empréstimo. Em vez de tomar empréstimo num banco, uma empresa dentro de certas regras pode lançar debentures. É um titulo que vencerá em data tal, e pagará juros de tanto por cento. Os interessados compram esses títulos, a empresa recebe o dinheiro, e no vencimento paga o valor mais os juros pactuados. A INVEPAR fez várias emissões de debêntures, ao longo dos anos.
Hoje, os 25% da OAS são do Fundo Yosemite, permanecendo FUNCEF, PETROS e PREVI com 25% cada uma.
A INVEPAR, não tendo cotação ativa em Bolsa, é daqueles investimentos que são precificados a laudo, isto é, contrata-se uma empresa especializada para definir quanto vale, e esse valor é lançado no balanço da FUNCEF. Ano a ano, esse valor vinha num crescendo, até atingir o pico de $2,8 bilhão em 2014. Talvez tenha ajudado a mascarar os déficits já existentes nessa época, é possível. O que sabemos é que daí em diante, houve perda no valor, ano a ano. Em 2016 nosso investimento na INVEPAR tinha caído para $1,7 bilhão, em 2018 estava em $1,34 bi. Essas perdas todas já estão dentro dos equacionamentos que estamos dolorosamente pagando.
Em 2019, ultimo ano que temos posição, a INVEPAR valia menos de 1 bi, valia $894 milhões nos demonstrativos da FUNCEF. Essa ultima perda de valor está dentro daquele déficit acumulado e não equacionado, e em grande parte coberto agora em 2020 com a rentabilidade da Vale.
Os maus resultados da INVEPAR parece-nos uma incógnita. Impressiona que uma empresa que tem concessão dos melhores ativos do seu ramo possa dar prejuízo.
Aeroporto de Guarulhos, Linha Amarela, Metro Rio, VLT, BR 40, a Raposo Tavares… é difícil admitir que se possa perder dinheiro explorando essas concessões. Mas perdeu, e muito, e ao longo do tempo a INVEPAR se desfez de boa parte dos seus ativos.
O fato é que negócios que já nascem ruins dificilmente se equilibram depois, ainda mais quando se tem algum sócio pouco confiável.
Ter a concessão do maior aeroporto da América Latina pode ser muito bom, mas deixa de ser bom quando já lá na entrada (em 2012, nos leilões do governo Dilma) se ofereceu ágio de 347% , deixa de ser bom quando quem ganha a concessão se compromete a fazer uma série de caras obras de infraestrutura, entre as quais a construção do Terminal de Passageiros 3, o edifício-garagem, a ampliação dos pátios de aeronaves. Torna-se uma aventura quando tem que se pagar uma outorga anual de mais de um bilhão.
Ter a concessão de uma estrada importante, de ótimo fluxo de veículos, pode ser muito bom, quando fazemos a conta do que se vai receber de pedágio. Mas deixa de ser bom quando se assume o compromisso de duplicar não sei quantos trechos da rodovia, fazer recuperações, ampliações, e o valor disso tudo ultrapassa o que se pode ganhar com os pedágios. Torna-se uma aventura quando não se faz essa conta.
Em 2020 a pandemia, com a redução de viagens e pouca movimentação de pessoas , agravou os problemas que já existiam.
A INVEPAR tem dividas. Apenas de debêntures, tem uma emissão de 2 bilhões que vence em 10/2024, e tem uma emissão de $1,370 bilhões que vence agora em 11/04/2021. Dessa ultima, a própria FUNCEF tem $369 milhões a receber (posição de 2019). Quando houve a emissão, em 04/2019, a FUNCEF ficou com esse valor em debêntures. Receberá? Logo saberemos.
Consultado, o Diretor Augusto afirma que: “Quais as opções disponíveis? São três:
1- Tentar uma reestruturação, para reduzir divida e equilibrar a empresa
2- Tentar uma recuperação judicial
3- Simplesmente deixar quebrar/falir
Nenhuma das 3 opções é imune a problemas e repercussões na FUNCEF, mas optamos pela primeira, por ser potencialmente a de menor dano à Fundação.”
Decisões difíceis, e ainda mais difíceis de avaliar. Que a opção seja de fato a melhor.
Para complicar, a Prefeitura do Rio de Janeiro disputa na justiça o direito de encampar a Linha Amarela. É um verdadeiro disparate. É como se uma pessoa alugasse um imóvel para outra, por x anos, o locatário faz investimentos contando que vai recuperar depois no correr dos anos, e então o locador vai lá e toma o imóvel de volta? E pior, pretende alugar o terreno de novo, pra outra pessoa. Mas enfim, o assunto está para decisão no STJ, e vamos torcer para que haja bom senso e critério. Nosso investimento depende disso.